Essa é uma reflexão a partir do filme “Ainda estou aqui”, dirigido por Walter Salles e protagonizado pela Fernanda Torres, por isso, pode conter spoiler : )

Esse texto não é sobre a atuação avassaladora da atriz Fernanda Torres (quanta coisa em um só olhar ela passou), do carisma do Selton Melo (o cachorrinho Pimpão que o diga), da direção impecável do Walter Sales (reflexo de sua infância junto aos Paiva), da angústia passada pelo filme (quando as cortinas da casa fecharam…), do terror da ditadura ou sobre um passado que não podemos voltar. Esse texto é uma reflexão a partir de tudo isso, mas sobretudo de uma vida real que deixamos de viver. Será que ainda estamos por aqui?

O diretor mostra cotidiano onde havia o sabor da convivência e o valor de estar junto àqueles que são caros ao coração, fica notório o quão gostoso é uma tarde na praia, o vôlei sobre a areia quente, o correr pela rua com os amigos ou as conversas com quem comunga do mesmo pensamento. Havia conforto em partilhar um mesmo espaço, em se embalar em conjunto pela mesma música, em dançar até se sentir frouxo simplesmente pelo prazer de partilhar com o outro um momento de descontração.

Onde estamos nós? Enfurnados em telas de aparelhos que nos sequestram e oferecem doses maliciosas, e regradas, de um prazer que parece nunca ser atingido? Ou perdidos de nós mesmo, sem saber o que nos define e traz esse tal prazer? O homem vive sedento de algo que talvez não sabe o que é ainda, pois ao se restringir de desfrutar da convivência com o outro, se impossibilita de conhecer uma vida que possa lhe garantir uma satisfação que por muito pode durar.

“Ainda estou aqui” fala sobre a dor causada por um regime que oprimiu, que eliminou vidas à custa de nada, que torturou e fez a nação sangrar, mas também sobre um tempo que não se vive mais, onde era gostoso estar junto daqueles que se ama, de uma época marcada por toques, na pele e na música, embalados por risadas e construções culturais sólidas, e acima de tudo, pelo desejo de ver o outro bem, vivo e próximo.

Categorias: Reflexões

Christian Augusto

Estudante de psicologia e psicanálise, poeta amador e futuro psicoterapeuta!

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